Croquete de couve-flor.

    Minda? Alô? Oi, filhinha, tudo bem com você? Passou bem esses dias? Eu não! Olha, o que passei não desejo nem prá um cachorrrrrro! Sabe aqueles croquete de couve-flor que a nora da Minga deu prá nóis? Não come! Só Deus sabe o que eu sofri! Ai que desarrrrranjo que me deu. Achei que ia virá do avesso! A Minga não quis ficá com os croquete porque foi aquela lá que deu e ela tá com implicância. Aí ela ia jogá no lixo. Eu falei que era pecado, né? Tô certa? Jogá comida fora com tanta gente passando fome! Mas olha que era melhor tê dado pro pobre, viu! Ai que horror! Sabe que não tava bom nem na hora de comê. Tinha umas coisa de soja dentro que tinha gosto de pano de chão depois da faxina. Ruim mesmo! Má que gosto esquisito tem aquela lá, não? Deus que me livre. Só que eu não falei nada prá Domingas. Ela já tá meio assim com a moça se eu falo que os croquete fizeram mal, aí se já viu! Ontem ela ligou aqui e eu tava morrrrendo de cólica intestinal. Falei prá ela que tinha sido uma manga passada que eu tinha comido. Tô certa, né? Se não vai complicá mais a situação lá com o menino dela, o Tavinho. Tudo bem que a moça não é grande coisa. Também na idade dele qué o quê? Só acha os resto mesmo! Mas pelo menos ela trabalha e parece que não usa essas coisa de tóchico que, Deus me livre, deve ser a maior desgraça de uma mãe. Então se é o tem, vamo fazê o quê, tô certa?

    Mas cê sabe que eu não sô mole, né? Hoje fui na minha caminhada. Não que eu já tô boa. Não! É que eu sô teimosa mesmo e acho que se a gente se encosta, filha, aí é pior. Mas não me comentada disso com a Minga, viu? Não vamo chatiá ela. Ela perguntou se eu já tinha comido e eu falei que tinha congelado, porque daí ela esquece e nóis não fala mais nisso. Agora vê se você não dá com a língua nos dente, hein? Sei lá, às vezes cê exagera nos Campari da vida e sai falando qualquer coisa. Olhá lá!

    Bom, linda, deixa eu ir porque hoje é dia de lavá as toalha. Só tô preocupada que o tempo não tá bom e se demora prá secá fica com cheiro de chulé, que nem as meia do falecido. Ai credo! Tem coisa que a gente dá graças a Deus que já passou, né? Fica bem viu, santa! E me toma cuidado que hoje tá um ventinho mais fresco. Cuidado com a tua asma, viu? Tchau, linda!